DESTINO É FLOPAR
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Solange (Alice Wegmann) chora em cena de Vale Tudo; toda festa da Globo vira enterro
Grande aposta da Globo para a celebração dos seus 60 anos, o remake de Vale Tudo caminha para se tornar o maior fracasso entre todas as novelas das nove da história da emissora. O desempenho abaixo do esperado, porém, apenas confirma uma "maldição" que assola a líder de audiência a cada dez anos: toda comemoração de aniversário é abalada por um vexame.
A festa de 50 anos, por exemplo, virou um enterro por causa de Babilônia (2015). O folhetim de Gilberto Braga (1945-2021), Ricardo Linhares e João Ximenes Braga até que começou bem, embalada pelos bons resultados de Império (2014), sua antecessora.
Contudo, o jogo virou rapidamente: o público rejeitou de cara um beijo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, a mocinha batalhadora vivida por Camila Pitanga e um núcleo de evangélicos corruptos. Líderes religiosos incentivaram um boicote à trama, que viu sua audiência cair.
A situação foi tão dramática que Silvio de Abreu (então diretor de Dramaturgia da Globo) precisou reescrever blocos de capítulos de inteiros, a novela foi encurtada e ainda abriu espaço para a Record crescer com Os Dez Mandamentos (2015) --que teria uma vitória histórica contra a Globo no capítulo em que Moisés (Guilherme Winter) abria o Mar Vermelho.
Uma década antes, a efeméride de 40 anos foi um sofrimento nas três faixas das novelas que estavam no ar em pleno aniversário de 40 anos, em 26 de abril de 2005. Às seis, Como Uma Onda (2004) registrou uma queda de oito pontos na Grande São Paulo com relação à sua antecessora, Cabocla (2004).
Às sete, A Lua Me Disse (2005) herdou a baixa audiência de Começar de Novo (2004) e teve a segunda pior estreia de uma novela das sete até então --atrás apenas de Desejos de Mulher (2002). Para piorar, sofreu com a concorrência de A Escrava Isaura (2004) --sem falar de controvérsias nos bastidores, com acusações de racismo e transfobia.
Mas a tristeza mesmo veio na faixa mais nobre, com América (2005). Gloria Perez tinha o cenário perfeito para brilhar, já que sucedeu Senhora do Destino (2004) no horário. Mas a história de amor entre Sol (Deborah Secco) e Tião (Murilo Benício) não caiu nas graças do público, forçando a autora a criar novos pares românticos para os mocinhos.
Para piorar, Gloria e o diretor Jayme Monjardim também não se entenderam nem um pouco, já que ela queria uma Sol mais animada e extrovertida, enquanto ele apresentou uma mocinha sofrida e sem glamour --ainda havia divergência entre os dois sobre a maneira como os rodeios eram retratados.
Um mês após a estreia, Gloria Perez venceu o cabo de guerra, e Monjardim pediu demissão. Marcos Schechtman assumiu a direção-geral da história e mudou tudo, até a música de abertura. A chefia da Globo também interveio e exigiu algumas alterações urgentes na história. Só aí a audiência aumentou, evitando um fracasso histórico.
Em 1995, assim como atualmente, um remake virou a pedra no sapato das comemorações de aniversário da Globo. Para a festa de 30 anos, a emissora decidiu fazer uma nova versão de Irmãos Coragem, originalmente exibida em 1970 e considerada uma das grandes obras de Janete Clair (1925-1983).
Para escrever a adaptação, uma aposta certeira: Dias Gomes (1922-1999), autor aclamado e ex-marido de Janete, com grande respeito pela história criada por ela. Só que o escritor e o diretor Luiz Fernando Carvalho também não se entenderam, com o cineasta "quebrando o ritmo dos roteiros" com suas longas tomadas de paisagens que são sua marca registrada.
Carvalho já sairia da novela no meio de qualquer maneira, pois precisava iniciar os trabalhos de O Rei do Gado (1996), mas o confronto chegou a tal ponto que seu afastamento foi adiantado. Mauro Mendonça Filho, que assumiria seu posto, também caiu por causa de Dias Gomes. Reynaldo Boury (1932-2022) ficou com a função --mas não conseguiu levantar os índices.
Já a festa de 20 anos da Globo foi ofuscada pelo fracasso de Um Sonho a Mais (1985), que marcou a estreia do espanhol Daniel Más (1943-1989) como autor titular de uma novela. Porém, ele não conseguiu engrenar sua história e acabou deixando os roteiros no capítulo 37. Lauro César Muniz, que havia desenvolvido o argumento e fazia a supervisão de texto do pupilo, acabou assumindo a autoria oficialmente e conduziu o folhetim até o fim.
Nos bastidores, a novela também sofreu com as intervenções da Censura. Alguns personagens homens se travestiam de mulheres, e houve até um casamento entre Anabela (um disfarce de Volpone, vivido por Ney Latorraca) com Pedro Ernesto (Carlos Kroeber), com direito a um selinho entre os dois. Os censores ficaram tão furiosos que exigiram a saída de alguns personagens.
A maldição de aniversário da Globo é tão antiga que já entrou em ação em 1975, quando a emissora completou apenas 10 anos no ar. Na época, a novela Cuca Legal sofreu com a rejeição do público, que migrou para a Tupi para ver Meu Rico Português (1975).
Diretor da história e um dos responsáveis pelo argumento, Oswaldo Loureiro (1932-2018) abandonou a trama no meio e não se segurou ao criticar abertamente os rumos da novela. "Cuca Legal nasceu, cresceu e se perdeu. Uma ideia que tinha tudo para ser abordada da melhor forma possível acabou se diluindo e prejudicando a consistência da história", disse à revista Amiga.
Apesar de tantos problemas nos bastidores e das baixas audiências de suas novelas ao longo das décadas, a Globo segue na ativa, como líder absoluta e influenciadora dos costumes da sociedade brasileira. Fica a expectativa de qual será a história amaldiçoada que virá na festa de 70 anos, em 2035...
Leia também -> Resumo dos capítulos da novela Vale Tudo.
Vale Tudo foi exibida em 1988 e é um dos grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. O remake da novela celebra os 60 anos da Globo. A autora Manuela Dias está responsável pela atualização da trama, e Paulo Silvestrini assina a direção artística.
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Resumo de Vale Tudo: Capítulos da novela das nove da Globo - 9 a 21/6
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